Augusto Cury

Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida e entender que não existem pessoas de sucesso e pessoas fracassadas. O que existem são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.

domingo, 16 de novembro de 2008

Traídos pelo desejo (ou a falta dele)


Ana Braga // Diario

Se foi Santo Agostinho, lá nos anos 400 antes de Cristo, quem primeiro reconheceu publicamente os tipos de desejos do ser humano - definindo inclusive nomes para cada um - por que ainda hoje é difícil admitir a falta de vontade de sexo, mesmo ao parceiro(a) íntimo(a) ou médico? Mais: como se pode recuperar o tesão, se não dando o primeiro passo, a confissão? Pois bem, o bloqueio ou a diminuição do libido sentiendi - que no latim do santo significa desejo e anseio sensual -, pode ser apenas de ocasião, que acontece de vez em quando. Que passa, com uma lingerie sexy, um comprimido para ereção, uma dose extra de testosterona, um papo-cabeça do casal. Mas pode também ser daqueles problemas que, de tão difíceis de expor, de tão guardados em segredo, tornam-se insolúveis e, pior, provocam outros transtornos, outras doenças, separações. Traem seus próprios donos. Então, quem quer discutir essa relação?
Para começo de conversa, o desejo sexual, o tesão é instintivo. É uma energia natural do ser humano, segundo a definição biológica. Recuperá-lo, isso sim, está além da coisa física. Começa, antes de tudo, num espelho. Sim. Como se fosse um olhar sobre si mesmo. E nas perguntas: a vontade de sexo está ligada a quê? Seria à história pessoal, à educação rigorosa da família, a algum trauma, como abuso sexual na infância? Seria à relação com o parceiro(a)? Ou, ainda, a queixas fisiológicas, orgânicas, como doenças, dores? "O primeiro passo é compreender a raiz da dificuldade. O segundo, encontrar um espaço para falar", sugere a psicoterapeuta Amparo Caridade, especialista em sexualidade humana e professora da Universidade Católica de Pernambuco.
A internet foi o espaço que o corretor de imóveis J.M.F, de 52 anos, encontrou. Num site de pesquisas, achou informações de especialistas e depoimentos de outras pessoas com a mesma queixa. "Enquanto homem, eu tinha aquela história de não falar, para não ouvir piada nem me sentir inferior. Também não comentava com a minha esposa, com medo de chateá-la", confessa J.M.F. Através da internet, também, descobriu um centro médico, no Recife, especializado no assunto. "O médico fez entrevistas e exames, até me dizer que a minha falta de apetite sexual era física. Por causa da minha idade, minha produção de testosterona vem caindo".
O Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM) é uma das causas mais freqüentes do desejo sexual hipoativo, da falta do libido no homem, segundo o urologista e chefe do serviço de Urologia do Hospital do Câncer de Pernambuco, André Maciel. "A alteração começa, em média, a partir dos 45 anos. Nos mais novos, o estresse, seja por dinheiro, trabalho ou afetivo, e fatores como alcoolismo, tabagismo e doenças do fígado e rim também dificultam o libido", diz o especialista. "O diagnóstico nem sempre é rápido, porque a maioria dos pacientes disfarçam o problema com outra queixa". O tratamento do DAEM é a reposição hormonal, diz Maciel. "Mas tem que ser extremamente criteriosa, porque a partir dos 45 anos o homem fica mais sucetível ao câncer de próstata e o tratamento pode disseminar o tumor", alerta Maciel.
Femino - "A primeira coisa que faço quando a paciente diz que não tem vontade de sexo é perguntar se isso sempre aconteceu ou apareceu recentemente. No primeiro caso, via de regra, o problema tem a ver com questões psicológicas, como as de educação repressiva, de nunca ter se masturbado, ou de traumas, como abuso sexual na infância. No segundo, as questões físicas são mais evidentes", destaca a ginecologista e professora da Universidade de Pernambuco Jeanine Trindade.
"Ela pode ter uma infecção, tipo candidíase, que dificulte a lubrificação da vagina e deixe o tecido dolorido. Aí, cabe um tratamento com medicamentos. Pode ter alguns hormônios altos, como a prolactina. Alguns anticoncepcionais, antidepressivos e a própria depressão também baixam o desejo", avalia a especialista. Obesidade e doenças de pele também bloqueiam o libido, "porque ela tem vergonha na cama".
"Seja qual for a causa do desejo sexualhipoativo na mulher, ela não pode assumir o tratamento sozinha. Ela já carrega uma certa culpa, quando as coisas não estão bem na cama, porque ela liga muito o sexo ao sentimento, a questões subjetivas, simbólicas. Então, se ela tiver um parceiro, deve compartilhar com ele. E ninguém pode separar o desejo sexual das delicadezas da mente, dos conflitos psicológicos, às vezes tão escondidos que não se percebe".

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